Case - EcoCiclo: Combatendo a pobreza menstrual pelo empreendedorismo feminino
DESAFIO
A EcoCiclo desenvolveu um absorvente 100% biodegradável e brasileiro, pensando na grande quantidade de mulheres que menstruam e que não têm acesso a produtos básicos de higiene, caracterizando a pobreza menstrual, uma de desigualdade socioeconômica que prejudica a saúde e escolaridade de pessoas que menstruam.
Além disso, um grande volume de absorventes é descartado como lixo doméstico em aterros sanitários. De acordo com um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma única pessoa utiliza cerca de 7.200 absorventes descartáveis em todo o seu período fértil.
SOLUÇÃO
EcoCiclo é um absorvente biodegradável, atóxico, vegano, hipoalergênico e 100% brasileiro que desaparece em 6 meses, reduzindo o impacto provocado pelos 800 anos de decomposição de um absorvente comum, que utiliza plástico derivado de petróleo, além de empregar mulheres em situação de vulnerabilidade para a produção.
Os protetores biodegradáveis são feitos com três camadas de material orgânico e a parte interna é costurada à mão. A matéria-prima utilizada é de origem natural ou pó degradante misturado com outras fontes naturais, como celulose, amido de milho, fécula de batata ou de mandioca.
HISTÓRIA
Criada por Adriele Menezes, Karla Godoy, Hellen Nzinga e Patrícia Zanella, quatro mulheres periféricas, a EcoCiclo desenvolveram o primeiro absorvente biodegradável do Brasil, mais barato que o tradicional e com mais benefícios à saúde feminina e à natureza.
As cofundadoras se conheceram em um programa gratuito de formação de lideranças jovens, o ProLíder, em São Paulo, em 2019, e tiveram a ideia do produto em um exercício para criar um produto que impactasse na vida de um milhão de pessoas. A solução faz parte da onda de itens sustentáveis de higiene menstrual, como coletores laváveis, calcinhas e absorventes reutilizáveis.
Hellen e Adriele Menezes (Engenheira Química) são naturais da Bahia. Patricia Zanella (Marketing) é de São Paulo, e Karla Godoy (Gestão financeira) de Recife. O grupo conseguiu encontrar um espaço onde poderiam apresentar seu modelo de negócio com propósito social: a Vale do Dendê, uma holding social com sede na Bahia que atua no desenvolvimento do ecossistema de inovação e criatividade em Salvador, tendo como foco a diversidade.
Atualmente, além do absorvente biodegradável, a EcoCiclo é uma plataforma de marketplace com produtos sustentáveis feitos por mulheres, em especial, mulheres em situação de vulnerabilidade. A variedade de produtos inclui biocosméticos, como óleos e manteigas vegetais, vasos e plantas, até itens de moda artesanais, como bolsas de crochê. As participantes recebem treinamentos em empreendedorismo sustentável para apoiá-las na geração de renda.
Com sede em Salvador, Bahia, em dezembro de 2021 foram contratadas quatro costureiras locais para dar início a uma produção piloto de 500 absorventes. A EcoCiclo chegou ao mercado com um primeiro lote de 100 pacotes de absorventes com 8 unidades cada e custo de R$ 25.
PLANOS PARA O FUTURO
A EcoCiclo evoluiu e criou um canal de vendas de produtos sustentáveis de empreendedoras periféricas para apoiar o negócio de outras mulheres, que terão acesso a dados de inteligência de negócios e treinamentos em marketing, finanças e aspectos jurídicos para maximizar seus resultados. O marketplace foi desenvolvido em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Karla ingressou na Universidade de Minnesota como bolsista do Centro Interdisciplinar para o Estudo da Mudança Global e bolsista da Fulbright no programa de Mestrado em Práticas de Desenvolvimento da Humphrey School of Public Affairs. Ela quer usar seu diploma para ajudar a reduzir a pobreza entre as mulheres, incluindo diretrizes de gênero em programas de desenvolvimento sustentável.
Rafaella de Bonna Gonçalves, designer paranaense, se aliou às fundadoras da EcoCiclo para desenvolver um novo protótipo de absorvente biodegradável. A profissional já havia criado o projeto Maria, em 2019, em que idealizou um absorvente descartável feito de fibra de bananeira em formato de rolo. O projeto foi vencedor da renomada premiação de design alemã IF Design Talent Award nesse mesmo ano. O projeto cresceu e foi aprimorado no projeto Eu Faço Parte, premiado em 2022 no concurso latino-americano Diseño Responde e que deve ser desenvolvido junto às sócias da EcoCiclo ainda neste ano. O grupo estuda o uso de outros materiais orgânicos como espuma de soja ou fibra de bananeira, com decomposição em até 3 meses. O modelo de venda será baseado no one for one (um por um) no qual na compra de uma unidade, a segunda é doada a instituições e ONGs.
PRINCIPAIS CONQUISTAS
A Ecociclo participou da edição 2020 da Competição Global de Novos Negócios - ClimateLaunchpad, realizada pela Climate Ventures com o financiamento do iCS. As empreendedoras foram vencedoras tanto da etapa brasileira quanto da etapa regional (Américas e Caribe). Isso garantiu uma aceleração internacional na Climate KIC, a maior aceleradora de negócios verdes da Europa.
EcoCiclo foi apresentada em diversos eventos e pitches, inclusive na Universidade de Michigan, nos EUA.
A EcoCiclo foi umas das 90 empresas participantes do programa de aceleração da Vale do Dendê, que busca ajudar novas empresas e startups que atuam na esfera da economia criativa e que estão inseridos no contexto de diversidade.
A marca participou da competição de empreendimentos sociais promovida pela Zurich Foundation sendo escolhida para receber uma doação.
A empresa contou com o apoio de três investimentos da prefeitura de Salvador e da Fundação Avina.
Atualmente, a empresa participa de uma aceleração do Grupo Boticário para criar uma máquina capaz de produzir os absorventes em nível industrial para ampliar o alcance do produto em todo o país, além de baratear o custo final.
PRINCIPAIS DESAFIOS
A falta de apoio financeiro e de confiança de pessoas em acreditar em um projeto guiado por mulheres foi uma das lições aprendidas depois de uma campanha online de financiamento coletivo para a compra de matéria prima e uma máquina para sua produção. O objetivo era arrecadar R$ 20 mil, mas só chegaram a R$ 8 mil, tendo que devolver esse valor aos doadores.
Episódios de machismo foram presenciados durante a busca por um profissional para construir a máquina para fabricar absorventes, em que não foram bem atendidas ou receberam recusas sem critério ou ouviam piadas, até rodadas de mentoria em que outros participantes não conseguiam mencionar a palavra menstruação, indicando que o tema, apesar de corriqueiro e relevante, segue como tabu.
Outro desafio considerável é baratear o produto, que ainda é mais caro se comparado às marcas tradicionais que utilizam plástico. Para isso, há a necessidade de mais investimentos para melhorar o processo produtivo e torna-lo mais acessível.
IMPACTO CLIMÁTICO
O modelo de negócio da EcoCiclo contribui para mitigar os impactos das mudanças climáticas ao:
Evitar a geração de resíduos plásticos dos produtos tradicionais e que levam até 800 anos para desintegrar na natureza.
Evita o fim do ciclo de vida do produto que, em geral, se encerra em aterros sanitários, aumentando as chances de contaminação do solo e dos lençóis freáticos.
RAIO-X 2022
Origem: Salvador, Bahia
Fundação: 2019
Modelo: B2C
Cofundadoras: Adriele Menezes, Karla Godoy, Hellen Nzinga e Patrícia Zanella
Fase do negócio: operação
CONTATO
Website: https://www.ecociclooficial.com.br/
Instagram: @ecociclooficial