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O desafio dos dados climáticos na transição justa para uma economia verde

A crise climática é um desafio global que exige ações coordenadas e precisas de diversos atores da sociedade, incluindo instituições financeiras, empresas e organizações governamentais. No entanto, um dos maiores obstáculos para a tomada de decisões eficazes é a falta de dados climáticos, abertos, padronizados e confiáveis.

Dados climáticos são informações e indicadores utilizados para mensurar tanto eventos do clima, como chuva, temperatura, pressão atmosférica, umidade, entre outros, como também para mensurar as emissões de gases do efeito estufa, em curto, médio e longo prazo. Essas mensurações contribuem para a elaboração de relatórios de diagnóstico, previsão e projeção de cenários futuros, informações fundamentais para o mapeamento de riscos e oportunidades relacionados às mudanças climáticas.

Dados climáticos: a base para decisões conscientes

Um exemplo prático do impacto da falta de dados pode ser visto nas instituições financeiras, que desempenham um papel crucial na economia impulsionando setores-chave, concentram em seus portfólios, ou seja, nos projetos e negócios que financiam, emissões em média mais de 700 vezes maiores que suas próprias emissões diretas, segundo o relatório “The Time to Green Finance” (“A hora do financiamento verde”, em português), de 2021. Ainda de acordo com o documento, apenas 25% das instituições financeiras das 332 que divulgaram seus dados relataram suas emissões financiadas. Ou seja, uma grande lacuna que impacta na transparência e também nas possíveis oportunidades de elaboração de estratégias eficazes de descarbonização.

Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), “O desafio dos dados climáticos: o papel crítico das plataformas de dados neutras e de código aberto” (2024), essa imprecisão ocorre porque dependendo das necessidades e requisitos específicos dos usuários finais, os dados climáticos podem ser categorizados de várias maneiras, cada um indicando diferentes níveis de detalhamento que exigem fontes diversas de dados, compondo assim uma série de informações que não fornecem uma só linguagem a todos os setores.

Diante da indisponibilidade dos dados climáticos nos moldes citados, as instituições financeiras não conseguem identificar com clareza quais ativos possuem maior pegada de carbono e quais são mais resilientes às mudanças climáticas, comprometendo avaliações de risco robustas e detalhadas, assim como a transparência quanto à pegada ambiental e o estabelecimento de metas e ações para a redução das emissões. Isso limita a capacidade das instituições financeiras de alinhar seus portfólios às metas de sustentabilidade e às exigências regulatórias, atrasando o processo de transição rumo a uma economia de baixo carbono.

Dados abertos, oportunidades multissetoriais

Os benefícios do acesso aos dados relacionados ao clima são multisetoriais. No caso das instituições financeiras, podem proporcionar uma melhor posição para precificar e gerenciar de forma mais assertiva os riscos, conforme destaca o relatório do PNUMA. Quanto às empresas, eles possibilitam um maior entendimento sobre como fortalecer sua resiliência e aproveitar as oportunidades, incluindo a determinação da alocação de capital de risco para medidas de solução.

A indisponibilidade de dados também representa um desafio para investidores e formuladores de políticas que visam entender o panorama completo dos impactos climáticos em diferentes setores e regiões. Preencher essas lacunas ajudará a aumentar a resiliência dos mercados financeiros aos riscos relacionados ao clima e a fomentar tomadas de decisão que apoiem o desenvolvimento sustentável e estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

O desafio dos dados climáticos e a realidade brasileira

No Brasil, um exemplo dos principais desafios na gestão dos riscos climáticos reside na falta de informações precisas sobre as infraestruturas existentes no país, como rodovias e ferrovias. O colapso das rodovias gaúchas é um exemplo trágico das consequências dessa lacuna.

As recentes inundações recordes no Rio Grande do Sul, que causaram perdas imensuráveis em vidas e infraestrutura, servem como um alerta da importância da disponibilização dos dados climáticos para a garantia de uma gestão que se antecipe às tragédias e adapte as estruturas para o enfrentamento da realidade climática.

Outro exemplo de setor que fica comprometido com a falta de dados climáticos é a gestão de oceanos. Uma gestão eficiente do espaço marinho brasileiro depende de informações precisas sobre as condições oceânicas específicas - como a saúde dos oceanos, que atualmente não estão disponíveis de forma aberta e transparente.

Enfrentar a crise climática exige um esforço coordenado e multisetorial. A consolidação de dados climáticos abrangente e acessível é um passo fundamental para construirmos um futuro mais resiliente e sustentável para o Brasil.