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O eterno desafio do financiamento climático: quando o progresso esbarra na inação

Por Jaqueline Nichi, Gerente de Conhecimento da Climate Ventures

As conferências climáticas globais sempre carregam consigo a esperança de avanços concretos e a amarga constatação de impasses recorrentes. A COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, evidenciou mais uma vez a discrepância entre o discurso e a ação, especialmente no que se refere ao financiamento climático.

O chefe de clima da ONU, Simon Stiell, fez um apelo contundente para que os países “parem com o teatro” e enfrentem seriamente os desafios do financiamento climático. O tom de urgência reflete a crescente insatisfação com o ritmo lento das negociações, que, na prática, deixam milhões de pessoas vulneráveis aos impactos climáticos. Afinal, o financiamento climático não é um ato de caridade, como bem destacou António Guterres, mas uma questão de sobrevivência econômica e social global.

Protesto de ONGs por justiça climática na COP29. Foto: UNFCCC, Kiara Worth

Mesmo com a pressão das nações em desenvolvimento, que pedem compromissos acima de US$ 1 trilhão anual, o rascunho final da COP29 ainda carece de números concretos. A proposta apresentada pelo bloco G77+China, que inclui o Brasil, de um financiamento anual de US$ 1,3 trilhão, encontra resistência dos países ricos, que evitam compromissos financeiros robustos e prolongam as negociações com estratégias que muitos consideram procrastinadoras.

A complexidade da questão aumenta quando se consideram as diferentes fontes de financiamento, que incluem fundos públicos, bancos de desenvolvimento e investimentos do setor privado. Modelos inovadores, como taxas sobre atividades de alta emissão de carbono, começam a ganhar espaço nas discussões, mas carecem de consenso e implementações práticas.

O papel do Brasil e a urgência da ação climática

O Brasil, como uma potência ambiental e parte do G77+China, tem desempenhado um papel crucial para tentar destravar as negociações. Entretanto, o país enfrenta o desafio de equilibrar sua liderança diplomática com a implementação de políticas climáticas robustas em território nacional, o que inclui atrair investimentos e fortalecer a cooperação internacional.

A ONU expressou desapontamento e preocupação com o acordo final da COP29, realizado em Baku, por considerar que os compromissos financeiros assumidos pelos países ricos para apoiar nações em desenvolvimento são insuficientes frente à urgência da crise climática. Apesar da promessa de US$ 300 bilhões anuais até 2035 para ações de mitigação, o montante está muito aquém dos US$ 1,3 trilhão necessário estimados por especialistas. A organização destacou a falta de ambição no pacto e alertou para os riscos de comprometer a credibilidade dos esforços globais em conter os impactos das mudanças climáticas.

COP29 acaba com acordo de US$ 300 bilhões. Foto: Reprodução

Enquanto os pavilhões da COP29 são desmontados, o legado de incertezas permanece. É essencial que países desenvolvidos assumam responsabilidades financeiras proporcionais à sua contribuição histórica para a crise climática. Por outro lado, países emergentes devem demonstrar liderança na formulação de soluções criativas e na construção de coalizões que pressionem por mudanças estruturais.

Em um comunicado oficial, o secretário-geral da ONU instou os países a apresentarem seus planos de ação climática “bem antes da COP30”, prevista para 2025 em Belém (PA). Até fevereiro, as nações deverão submeter à ONU compromissos mais ambiciosos para a redução das emissões de gases de efeito estufa, acompanhados das estratégias necessárias para implementá-los.

Esperava um resultado mais ambicioso, tanto em termos financeiros quanto de mitigação.

Se o financiamento climático é de fato uma questão de interesse coletivo, como enfatizou Guterres, então o momento de agir é agora. Adiar decisões significa perpetuar a injustiça climática e colocar milhões de vidas em risco. Como observadores e participantes ativos deste cenário, devemos manter a pressão e exigir compromissos à altura dos desafios que enfrentamos.