O que são DAOs e como esse modelo de gestão colaborativo se tornou uma aposta para gerar soluções inovadoras para a crise climática
A pandemia intensificou a maneira de nos organizarmos em grupos independentemente de limites geográficos ou físicos e também influenciou o crescimento das Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs na sigla em inglês).
Nesse tipo de estrutura de negócios, o controle e a tomada de decisão são compartilhados entre os membros da comunidade e não centralizados entre poucas pessoas. A tomada de decisão é autônoma, com regras incorporadas a um código, como o blockchain (um grande banco de dados compartilhado que registra as transações dos usuários), e não há a necessidade de hierarquia e burocracia para funcionar bem.
A primeira DAO foi o bitcoin, criptomodeda com regras programadas, administrada de forma autônoma a partir de um protocolo consensual. Outro exemplo recente é a DTravel, plataforma de compartilhamento de hospedagens lançada no fim de 2021 e gerida por sua própria comunidade de hóspedes e anfitriões, com custos mais baixos e maior segurança.
Para garantir essa estrutura de “sociedade em nome coletivo” a confiança é um ponto central. Em vez de um estatuto jurídico, as regras da organização e o armazenamento de dados são geridos por contratos inteligentes que garantem sua proteção. Nada pode ser alterado sem o consentimento da comunidade, o que assegura a transparência e democratização da operação, diferentemente das empresas tradicionais, que contam com Conselhos, executivos e investidores para a tomada de decisão centralizada.
As “Climate DAOs” surgem para ajudar a combater os riscos climáticos
O surgimento das DAOs promete ser uma nova fronteira na missão de mitigar os frequentes impactos negativos das mudanças do clima. Elencamos abaixo cinco modelos de DAOs que já operam com esse objetivo:
Earth Fund: defende a inclusão de todos na agenda do clima por meio da tecnologia blockchain.
Como funciona: apoia causas ambientais ao unir recursos que conectam usuários às suas causas favoritas e ajudam a financiar, via token, projetos para remoção de carbono, tecnologia verde e conservação, entre outros.
KlimaDAO: busca valorizar os preços dos ativos de carbono para que empresas e economias se adaptem mais rapidamente às soluções de baixo carbono.
Como funciona: maximiza a criação de valor para a comunidade e cria um ciclo virtuoso de crescimento, já que cada token KLIMA é apoiado por 1 tonelada de redução ou remoção de carbono certificado e verificado por terceiros.
Diatom fund: utiliza uma moeda descentralizada que se torna mais valiosa à medida que o oceano é restaurado e protegido de forma mensurável.
Como funciona: ao tentar mapear o valor do oceano em um token, usa fundos do tesouro para investir em doações ou projetos de proteção e limpeza dos oceanos mais votados pelos membros.
Spark Eco: investe em projetos ou financia ONGs que trabalham com energia solar em países em desenvolvimento.
Como funciona: constrói micro redes solares em todo o mundo para fornecer energia para pequenas comunidades o mais próximo possível do usuário final. O usuário paga a energia usada conforme a utiliza por meio de criptomoedas e NFTs.
SavePlanetEarth: iniciativa global registrada no Reino Unido que aposta em parcerias entre governos e organizações. Está desenvolvendo os primeiros NFTs de crédito de carbono certificados Gold Standard, uma blockchain verde para energia renovável e troca de créditos de carbono por meio da criptomoeda SPE.
Como funciona: os créditos consumidos por organizações e indivíduos que desejam compensar sua pegada de carbono geram lucros para iniciativas ambientais, tornando-se um modelo de negócios autossustentável.
Apesar de ainda novas, essas iniciativas nos deixam otimistas em relação às aplicações das DAOs em respostas descentralizadas aos impactos climáticos. Vale ficarmos atentos para verificar se a evolução dessa tecnologia vai realmente viabilizar a colaboração e a coordenação global para gerar soluções inovadoras para a crise do clima de forma escalável e não somente em alguns locais ou para pequenos grupos.