O retrocesso dos EUA e o papel global na Transição Climática
Na contramão dos esforços globais para fortalecer o combate às mudanças climáticas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu retirar o país do Acordo de Paris, sinalizando que seu governo não manterá compromisso com as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. A decisão, anunciada no dia de sua posse, em 20 de janeiro de 2025, foi reforçada por um posicionamento de estímulo à produção de combustíveis fósseis, recorrendo a uma postura negacionista em relação às mudanças climáticas, e colocando em risco os avanços na transição para uma economia de baixo carbono.
Os Estados Unidos estão entre os dez maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, ao lado de China, União Europeia e Brasil. Com sua retirada do Acordo de Paris, os EUA passam a integrar um grupo isolado de países que não fazem parte do tratado, ao lado apenas de Irã, Líbia e Iêmen. Essa decisão os distancia das principais economias globais, todas comprometidas com a redução de emissões e a transição climática.
O impacto dessa decisão na transição climática
Devemos nos preocupar que o posicionamento do presidente norte-americano venha a abrir caminhos para o aumento global de emissões, apesar de todo o esforço investido nos últimos anos para desenvolver soluções e alternativas energéticas?
Embora a decisão dos EUA tenha um impacto relevante, ela não será suficiente para frear a transição para uma economia de baixo carbono. Como ressalta Ricardo Gravina , cofundador da Climate Ventures, "Trump sozinho não consegue travar a agenda climática. Ele tem peso e atrapalha o processo, mas estamos caminhando na tendência do esverdeamento da economia global. A vasta maioria dos países segue comprometida com isso, assim como muitas empresas e estados norte-americanos".
Governos estaduais e municipais nos EUA continuam adotando metas ambiciosas de redução de emissões, incentivando investimentos em energias renováveis e transporte limpo. Essas iniciativas não dependem da política federal e seguem avançando com o apoio do setor privado. Grandes empresas e investidores reconhecem os riscos econômicos das mudanças climáticas e as oportunidades de lucro associadas à transição energética, o que reduz a dependência das decisões presidenciais nesse processo.
Outro fator determinante é que leis federais já aprovadas continuam em vigor, garantindo incentivos robustos para o setor de energia limpa. A Inflation Reduction Act e o Bipartisan Infrastructure Law preveem bilhões de dólares em subsídios para renováveis, infraestrutura verde e tecnologias limpas. Com isso, reverter o avanço do setor na prática se torna extremamente difícil, já que muitos projetos já foram iniciados e contam com apoio bipartidário, tanto de republicanos quanto de democratas em diversos estados.
Para além dos EUA, o movimento global dentro da agenda climática é irreversível. China, União Europeia e outros grandes players econômicos estão investindo massivamente em tecnologias verdes, reduzindo a influência de qualquer país que tente desacelerar essa transição. A maioria das nações entende a urgência de limitar o aquecimento global e continuam comprometidas, tendendo a manter ou até ampliar suas metas climáticas. Vale ressaltar também que a estrutura do Acordo de Paris é resiliente, e baseia-se em compromissos nacionais voluntários (Nationally Determined Contributions – NDCs), o que minimiza o risco de um efeito dominó.
O Brasil como líder da Inovação Climática
Com destaque no cenário internacional, a diplomacia brasileira terá um papel estratégico na COP30, promovendo o aumento da ajuda financeira dos países desenvolvidos para apoiar a transição energética de nações emergentes. Essa meta, não alcançada na COP29, será um dos focos centrais do evento. Além disso, o Brasil pretende colocar em evidência a necessidade de adaptação climática, impulsionada pelos eventos extremos que marcaram o país nos últimos anos. Com o afastamento dos EUA do centro das discussões, abre-se uma oportunidade para que o Brasil assuma um papel ainda maior na liderança global na agenda climática, fortalecendo sua posição de referência na transição para uma economia regenerativa e de baixo carbono.
A inovação climática segue como uma ferramenta poderosa para viabilizar essa transformação. O desenvolvimento de novos modelos de negócios, novas tecnologias e processos, instrumentos financeiros e infraestrutura sustentável permite que o setor privado impulsione a transição verde, mesmo diante de retrocessos políticos. Para garantir o avanço dessa agenda, é essencial conectar mercado, ciência e capital, criando espaços de diálogo e colaboração entre governos, empresas e sociedade civil.
A Climate Ventures acredita que a inovação climática é o melhor caminho para acelerar a transição justa para uma economia verde e de baixo carbono. Nossa missão é fomentar essa transformação através da produção e disseminação de conhecimento e da coordenação de ações multissetoriais.
A transição para uma economia verde continua avançando – com ou sem o presidente norte-americano a bordo. O mercado global segue a tendência ESG, impulsionado por compromissos firmes da União Europeia, China, Brasil e diversas economias. Cabe ao restante do mundo seguir impulsionando a inovação e os investimentos climáticos, garantindo que a transição global aconteça. O caminho da descarbonização e da economia verde já está traçado – e nós seguimos comprometidos em impulsionar essa agenda.