Case - Manioca: como valorizar a biodiversidade amazônica mantendo a floresta em pé

Nossos produtores são selecionados pela qualidade de seus produtos e vontade de desenvolver seus negócios. Apoiamos essas pessoas com iniciativas de capacitação, acesso a tecnologias e orientação para melhoria da qualidade da sua produção.
— Joanna Martins, CEO da Manioca

DESAFIO

São poucos os brasileiros que conhecem e consomem produtos da Amazônia, apesar de sua enorme riqueza natural e cultural. Foi a partir desta realidade que a Manioca – Sabores da Amazônia se inspirou para criar o seu negócio de produtos alimentícios amazônicos, em Belém, Pará, para estimular a comercialização dos ingredientes da região e promover o desenvolvimento sustentável.

SOLUÇÃO

Com base na sociobiodiversidade amazônica, a Manioca produz artesanalmente alimentos naturais, veganos e sem glúten, comercializados por meio de uma cadeia produtiva local, rural, familiar, ribeirinha e justa, a fim de gerar renda e emprego e popularizar produtos e palavras como tucupi, cumaru e jambu, entre outros. São geleias, farinhas, granolas, molhos e temperos fornecidos para food services e pontos de venda de varejistas em São Paulo, Paraná, Pará, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Pernambuco, além do e-commerce. E todo o processo é monitorado por meio de indicadores de impacto socioeconômico.


Paulo Reis e Joanna Martins fundadores da Manioca.


HISTÓRIA

O negócio foi oficializado em 2014, mas a história começa há quase 50 anos. Anna Maria, dona de um restaurante chamado Lá em Casa, no Pará, fundado em 1972, e dedicado à culinária local, começou a ganhar reconhecimento nacional e internacional, chegando a ser indicado, nos anos 80, pelo New York Times. O chef Paulo Martins, filho de Anna Maria, se transformou num embaixador da gastronomia amazonense e criou o festival “Ver o Peso da Cozinha Paraense”, que se configurou numa vitrine para a cozinha regional.

Os sabores e ingredientes paraenses começaram a gerar demanda de outras partes do país, mas os escassos fornecedores apresentaram um desafio para expandir a culinária local. A administradora do negócio, Joanna Martins, filha de Paulo e neta de Anna Maria, incentivou a formalização da marca própria que fornece ingredientes tradicionais da Amazônia. Um ano e meio depois, Joanna conheceu Paulo Reis durante um projeto universitário em Belém. Paulo passou seus anos de faculdade empreendendo em projetos de produção sustentável na região e por isso, pouco tempo após se formar, retomou contato com Joanna e propôs uma sociedade para unirem forças e aproveitarem o potencial regional. Assim, Joanna e Paulo passaram juntos a expandir o foco da Manioca com a criação de novos produtos que atendiam não só a cozinheiros, mas também consumidores que utilizam ingredientes em casa, no dia a dia. Hoje são duas linhas. Atualmente, há duas linhas de comercialização, uma mais voltada a ingredientes mais tradicionais, que seguem a cultura local como principal fonte de inspiração e, além do consumidor final, também atendem a demanda de restaurantes, entre eles, os premiados D.O.M e Dalva e Dito, de Alex Atala, e Maní, de Helena Rizzo, ambos em São Paulo, e o carioca Oro, de Felipe Bronze. E outra focada no consumidor final, vendidos em varejistas como Pão de Açúcar e St Marché.

A partir de 2019 a startup vem pouco a pouco ganhando espaço internacional, hoje fazendo exportações para Estados Unidos e Europa com sua linha de Tucupi, que inclui o Molho de Tucupi Preto; uma linha de geleias, que inclui sabores como Taperebá e Cupuaçu; uma linha de farinhas e feijão especiais, além da granola, dos molhos de pimenta e das sementes e especiarias amazônicas. Além de valorizar os produtos da biodiversidade amazônica, gera desenvolvimento, emprego e renda para cerca de 50 famílias que atuam em cooperativas e associações de cidades como Santa Bárbara, Santa Isabel, Bragança, Augusto Corrêa, Santo Antônio do Tauá e Cameta, além de monitorar as áreas de atuação de seus produtores para evitar qualquer tipo de desmatamento.


PLANOS PARA O FUTURO

A criação de novos produtos é contínua. Em 2021, foi incluído no portfólio uma granola feita com tapioca, castanha-do-pará, cumaru e cupuaçu e está prevista uma linha de temperos secos e outra de snacks de mandioca e castanhas a ser lançada no início de 2022. Investimentos no aperfeiçoamento e apresentação dos produtos são parte do processo de melhoria contínua.

Outra novidade em desenvolvimento é o início de uma produção comunitária orgânica de mandioca, desenvolvida pela Manioca em parceria com pequenos produtores da região, que recebem da empresa a assistência técnica necessária, financiamento, garantia de compra e de preço, em uma parceria construída para durar no mínimo cinco anos. O objetivo é chegar ao cultivo de mandioca agroflorestal para que o sustento da comunidade e do solo seja fruto da diversidade de plantas, frutas e ingredientes.

IMPACTOS

O principal impacto do negócio é socioambiental. Além de desenvolver fornecedores, adequa suas expectativas ao entender melhor critérios como processo, estrutura, meio ambiente, ambiente de trabalho, produto, logística e gestão. O objetivo é o crescimento da renda e da qualidade de vida desses fornecedores, por isso, a Manioca mantém o monitoramento de informações sociais, como verificar se as crianças daquela família estão frequentando a escola e se o produtor faz parte de um programa de previdência, por exemplo. Além disso, a Manioca passou a investir na formalização dos seus fornecedores, para que tenham acesso a direitos ligados à terra e a à produção, bem como passou a monitorar as áreas em que atuam, para proteger a floresta dos riscos de desmatamento.

Além da utilização de matéria prima regional produzida por famílias, associações e cooperativas, a empresa desenvolveu um projeto para dar assistência aos pequenos produtores: o Programa Raízes, baseado em três pilares: gerar renda, oferecer treinamento profissional e proteger a área florestal onde estão alocados os trabalhadores.


Tucupi: produto é exportado para Estados Unidos e Europa.


PRINCIPAIS CONQUISTAS

  • Em 2018, recebeu investimentos do Laboratório de Investimento – Negócios de Impacto Socioambiental da Conexsus – Instituto Conexões Sustentáveis. Um co-investimento em conjunto com a SITAWI Finanças do Bem e Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável.

  • Em 2019, foi uma das startups contempladas no Programa de Aceleração da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), uma rede do setor privado criada para a promover novos modelos de desenvolvimento sustentável na região.

  • Em 2019, em uma rodada de negócios durante o 1º Fórum de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia (FIINSA) iniciativa coordenada pelo IDESAM em parceria com a USAID e CIA, conseguiu investimento de R$ 200 mil para capital de giro, plano de comunicação, marketing e expansão de mercado.

  • Em 2020 captou mais de R$250 mil com o Programa de Aceleração da PPA (hoje Amaz Aceleradora) para desenvolvimento de produtos e compra de equipamentos.

  • Em 2020, participou da campanha “Amazônia em Casa, Floresta em Pé”, iniciativa foi desenvolvida pelo Instituto Climate Ventures em parceria com a PPA e Fundo Vale, divulgando seus produtos na plataforma online Mercado Livre.

  • Em 2021, participou da nova campanha do Mercado Livre, Da Amazônia para Você, para venda de produtos das aceleradas na plataforma PPA, além de participar de oficinas de comercialização, marketing digital e benefícios como pacotes de mídia com anúncios gratuitos no marketplace.

PRINCIPAIS APRENDIZADOS

  • Falta de referências em tecnologia de como conservar alimentos de forma natural, uma vez que a maior parte da indústria de alimentos está pautada na adição de aditivos químicos.

  • Poucos estudos sobre os insumos florestais em todos os âmbitos, agronômico, físico-químico, biotecnológico e gastronômico.

  • O modelo de educação brasileiro não incentiva a troca entre universidades e empresas, o que poderia destravar inovações e investimentos.

  • Liderar um negócio que presa pelo respeito e valorização entre produtores, comunidade e cozinheiros trouxe orgulho e pertencimento aos atores da cadeia ao verem seus produtos sendo valorizados.

  • Os sabores amazônicos ainda são pouco conhecidos dentro e fora do Brasil, por isso, há um longo caminho para apresentar os produtos pela primeira vez a fim de gerar desejo de compra e isso exige investimento.

  • Trabalhar com o varejo é difícil para pequenas empresas no Brasil, pois as exigências dos varejistas são grandes e o custo alto. Flexibilizar as exigências e os custos, sendo mais sensíveis aos pequenos negócios, pode ampliar a oferta de produtos diferenciados para seus pontos de venda.


IMPACTO CLIMÁTICO

O modelo de negócio da Manioca contribui para:

  • Redução de emissões de gases de efeito estufa

  • Proteção da floresta em pé

  • Uso de recursos sustentáveis

  • Impacto social que reduz o desmatamento


RAIO-X 2022

  • Origem: Belém, PA

  • Fundação: 2014

  • Natureza do negócio: Sociedade limitada

  • Modelo: B2B, B2B2C e B2C

  • Funcionários: 25

  • Faturamento: R$ 900 mil (2019-2020)

  • Fase do negócio: escala


Anterior
Anterior

Venture Capital tem papel central nos desafios das mudanças climáticas

Próximo
Próximo

Tecnologia do clima. Por que os investidores estão apostando em climate techs?